TRT-8 lança série de podcasts sobre saúde mental no trabalho

O tema da saúde mental tem sido tratado com muita atenção nas instituições, sejam elas públicas ou privadas. A recente atualização da NR n.º1, em maio deste ano, chama atenção para a necessidade das organizações criarem ambientes de trabalho saudáveis e que promovam o bem estar, enfrentando os dados que apontam para um adoecimento das pessoas.
Diante disso, a Secretaria de Comunicação (Secom) do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região deu início, neste mês de agosto, à série especial de podcasts “Quando Setembro Chegar”, uma produção do Laborando, canal oficial de áudio do TRT-8. Com 12 episódios mensais previstos para irem ao ar até agosto de 2026, o projeto tem como objetivo discutir a saúde mental no mundo do trabalho, com foco nas transformações sociais, culturais e tecnológicas que afetam o cotidiano das pessoas, em especial daquelas em torno do mercado de trabalho.
A estreia da acontece propositalmente antes de setembro, em alusão ao fato de que este mês é onde as organizações costumam trabalhar os conceitos o movimento Setembro Amarelo, encabeçado pela Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, que visa a prevenção ao suicídio. O nome da séria faz alusão ao fato de que não podemos esperar setembro chegar para tratar da nossa saúde mental, nem tão pouco auxiliar algum amigo, parente ou colega de trabalho que dê sinais de que precisa de ajuda ou até mesmo que peça apoio.
"Quando Setembro Chegar" busca discutir a nossa trajetória como seres humanos, como pessoas que vivem em sociedade, e que, portanto, se apoiam antes de tudo, antes da competição, antes do desalento, antes do abandono do outro. O episódio de abertura da série busca levantar esse histórico de construção do mundo do trabalho e da vida em sociedade, e conta com a participação da professora Edilza Joana Fontes, historiadora e docente da Universidade Federal do Pará, que trouxe reflexões sobre a trajetória do trabalho na sociedade — desde os tempos em que o esforço coletivo era essencial para a sobrevivência, até o cenário atual marcado pelo individualismo e pela competição.
Do coletivo ao individual: uma mudança de paradigma
No primeiro episódio, intitulado “A história do trabalho na sociedade: do coletivo ao individual”, a apresentadora do podcast e integrante da equipe da SECOM do TRT-8, jornalista Danielly Silva, aborda com a entrevistada como o trabalho, antes visto como elemento de união comunitária, passou a ser associado à produtividade individual e à meritocracia.
A professora Edilza explicou que, em sociedades antigas, o trabalho era uma prática coletiva, essencial para a subsistência e para a construção de vínculos sociais. “O não envolvimento de um membro da comunidade impactava diretamente todos os demais”, destacou.
Com a Revolução Industrial, esse cenário começou a se modificar. O deslocamento para os centros urbanos, a mecanização e o surgimento das fábricas fragmentaram os laços comunitários. “A eficiência individual passou a ser o principal critério de valorização, gerando uma lógica de competição entre os trabalhadores”, pontuou a convidada.
Globalização, tecnologia e os desafios contemporâneos
O episódio também abordou os efeitos da globalização e da tecnologia sobre o mundo do trabalho. A ascensão do empreendedorismo corporativo e do trabalho remoto, segundo a professora, intensificou o isolamento e reforçou o foco no desempenho individual. “A valorização do mérito, muitas vezes distorcida, contribui para ambientes de trabalho mais competitivos e menos colaborativos”, afirmou.
Ainda segundo ela, essa mudança de paradigma tem consequências diretas na saúde mental dos trabalhadores. A pressão por resultados, a perda de vínculos e a dificuldade de mobilização coletiva são fatores que contribuem para o adoecimento emocional.
É possível resgatar o senso de comunidade?
Ao final do episódio, a apresentadora lança uma provocação aos ouvintes: “É possível resgatar o senso de comunidade no ambiente de trabalho?” A professora Edilza acredita que sim, desde que haja uma mudança de cultura organizacional e valorização das relações humanas. “O reconhecimento individual pode coexistir com práticas coletivas, desde que haja espaço para diálogo, empatia e cooperação”, concluiu.
A série “Quando Setembro Chegar” está disponível no Laborando no Spotify. Os episódios seguintes abordarão temas como saúde emocional, relações interpessoais, assédio moral, burnout e estratégias de bem-estar no trabalho. Vem com a gente ouvir essa série especial e fundamental para o bem viver em sociedade.