“Não maquie a violência”: campanha do TRT-8 alerta sobre a violência doméstica

A violência doméstica nem sempre deixa marcas visíveis. Às vezes, ela se esconde atrás de frases aparentemente inofensivas, piadas disfarçadas de crítica ou do silêncio forçado de quem sofre. Pensando nisso, o Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (PA/AP) lançou a campanha “Não maquie a violência”, voltada à prevenção da violência doméstica contra servidoras e magistradas. Com o conceito da campanha e artes desenvolvidas pela Secom do TRT-8, a ação é uma iniciativa do Subcomitê de Participação Feminina e do Comitê de Equidade de Raça, Gênero e Diversidade, e tem como foco principal romper o silêncio e estimular a denúncia.
Com o lema “Os vários tons de violência doméstica”, a campanha usa imagens simbólicas, como batons quebrados e nomes de batons peculiares, para questionar atitudes que camuflam o abuso. A proposta é clara: violência não se esconde, se enfrenta. Maquiar o problema, seja pela negação do agressor, pela culpa imposta à vítima ou pela omissão de quem testemunha, só agrava o ciclo da violência.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) conduziu este ano uma pesquisa nacional sobre violência doméstica e familiar no âmbito do Judiciário, com foco na realidade vivida por magistradas, servidoras e colaboradoras de todos os tribunais do país. A ação integra as diretrizes da Recomendação CNJ n.º 102/2021, que orienta os órgãos do Judiciário a adotarem protocolos integrados de prevenção e segurança institucional.
O levantamento teve como principal objetivo diagnosticar o cenário atual da violência de gênero no interior do sistema de Justiça, possibilitando o aprimoramento de políticas públicas internas voltadas à proteção, acolhimento e prevenção da violência doméstica e familiar contra mulheres no ambiente institucional.
O que é violência doméstica?
Violência doméstica não é apenas física. Ela pode ser psicológica, moral, sexual, patrimonial ou institucional. Muitas vezes começa de forma sutil, com pequenos atos que minam a autoestima e o bem-estar da vítima, e pode evoluir para formas mais graves. Alguns exemplos são:
Violência física: Empurrões, tapas, socos, ou qualquer outro tipo de agressão corporal. Exemplo: “Ele só me empurrou porque estava nervoso” — não é justificável e é violência.
Violência psicológica: Humilhações, ameaças, manipulação emocional, vigilância constante, chantagem, isolamento social. Exemplo: “Você é inútil, ninguém vai te querer” — esse tipo de frase é uma agressão emocional.
Violência moral: Calúnia, difamação ou injúria. Exemplo: espalhar mentiras sobre a mulher, principalmente em seu ambiente de trabalho, tentando destruir sua reputação.
Violência sexual: Quando há imposição de relações sexuais sem consentimento, mesmo em relacionamentos afetivos. Exemplo: obrigar a parceira a praticar atos sexuais contra sua vontade.
Violência patrimonial: Controlar o dinheiro da vítima, destruir documentos, reter cartões bancários ou impedir que ela trabalhe. Exemplo: “Ele não deixa eu ter conta no banco” — isso também é abuso.
Por que falar disso dentro do Tribunal?
A campanha foi pensada para magistradas, servidoras e colaboradoras da Justiça do Trabalho, que não estão imunes à violência. Muitas vezes, o medo da exposição, a vergonha ou o receio de não serem levadas a sério impede que essas mulheres denunciem. Por isso, a campanha também quer reforçar a confiança das mulheres nas instituições. Mostrar que elas não estão sozinhas e que podem contar com a rede de apoio institucional.
“Não maquie a violência” é um chamado à responsabilidade coletiva. É preciso olhar com atenção, ouvir com respeito e agir com firmeza. Se você sofre ou conhece alguém que sofre violência, denuncie. Ligue 180, a ligação é gratuita e sigilosa.
A violência pode mudar de forma, mas nunca deve ser normalizada. Reconhecer é o primeiro passo para romper.